sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Vou contar um segredo

Sozinha,
Sentada numa das quatro cadeiras que rodeiam a mesa, que neste momento serve de apoio ao seu pequeno bloco, onde_como de costume_ descarrega a sua solidão!
Uma mesa recheada de chávenas de café_já bebido_, e de migalhas.
Uma mesa recheada de vida, vida que não foi ela que viveu.
Ocupou o pouco espaço que sobrava dessa mesma mesa com uma garrafa de àgua natural, e com um telemovel_que por motivo nenhum toca...
O seu corpo morto de vida sentou-se numa das tais cadeiras, e numa outra encontra-se a sua mala carregada, de nada!
Olha em frente.
E vislumbra pela janela um pedaço de lisboa.
Um pedaço velho e melancolico, que faz com que ela se aperceba do peso pesado que está o seu coração, nesta tarde nublada e deserta de carinhos!
Olha para o lado direito.
Vê livros amontoados uns em cima dos outros.
Livros com preço reduzido, que por não serem tão populares, por não serem tão procurados como outros, foram postos de lado.
Perderam o valor...
Pensa para si que, ela própria, poderia ser um daqueles livros.
Abandonada.
Sem procura.
Sem um olhar verdadeiramente interessado!
Desvia então o seu olhar para o lado esquerdo.
Deparasse com um balcão de café.
Mas, o que capta a sua verdadeira atenção, são os dois rapazes que estão por detrás dele.
Têm um ar tão desmotivado, parecem máquinas pré-programadas.
E esta é apenas mais uma cena que só serve para lhe relembrar o seu estado actual.
Também ela, aos olhos dos outros_ e aos seus_,parece um robô, sentada naquela cadeira, a escrever sem parar.
Sem expressão.
Vazia de emoção...
Olha para si.
Solidão!
Se ela olhar para si, e for verdadeiramente franca consigo mesma, ela que está ali sentada, é solidão.
Abandono.
Tristeza.
Mágoa.
Solidão...
Tudo o que os outros não querem ver, é o que ela é neste momento!
As pessoas deviam os seus olhos dos dela.
O seu olhar vazio, e o seu andar solitário, assusta-as de mais.
(Vou contar um segredo, sinto que a ela também lhe assusta!
E muito, muito mesmo...)
Um telemovel que não dá sinal de vidas.
Uma mala carregada de nada que lhe devolva a esperança, nada que lhe acorde o sorriso.
Uma garrafa de àgua que, por mais que beba, não lhe mata a sede de tristeza, não lhe lava a alma magoada e dorida.
Olha para tràs.
Vê a porta de saida.
E pensa:
"Saída para onde?!
É para lá que vou, para onde não sei, mas vou...
Já fui tantas vezes para "não sei onde"...
Mas vou contar um segredo.
Tenho medo, muito medo mesmo"

1 comentário:

Andreia disse...

Que bonito bebé. O teu melhor, real, belo e único. Como só escreve quem sente. Infelizmente? Felizmente?
Adoro-te