domingo, 3 de fevereiro de 2008

Anabela's

Anabela talvez tenha sido a pessoa mais misteriosa que já conheci, até hoje. Devido a esse mistério, sinto uma certa dificuldade em descrevê-la. Mas, vou tentar fazê-lo, pois acho que, esta, é merecedora da pseudo análise, que com o passar do tempo, fui tentando fazer sobre ela!
Quando a conheci, Anabela devia estar na casa dos trinta. A primeira coisa que fez recair a minha atenção sobre ela, foram as suas vestes. Esta usava, habitualmente, umas primorosas roupas, dignas de uma verdadeira preceptora! Vestidos de peitilho; camisas a fazer panda com uns pequenos, e mimosos, casaquinhos; sapatos de meio salto e, muitas vezes, um travessão, que abraçava, graciosamente, os seus cabelos encaracolados. Estranhei as suas roupas pelo facto de ser pouco comum, vermos uma senhora da sua idade, trajar-se deste modo. Mas, rapidamente, essa estranheza desapareceu, dando lugar a uma nova inquietação.
O seu olhar era, aparentemente, vazio, sem brilho, sem emoções… O sorriso, que raramente se desenhava no seu rosto, também esse era contido – quase imperceptível. As palavras que os seus lábios articulavam, pareciam escolhidas ao pormenor. Anabela possuía ainda, um andar extremamente elegante e cuidado. Este conjunto de factores, foram os responsáveis pela conclusão que tirei, da minha primeira impressão. Anabela era, a meu ver, a rainha do auto controlo. Nem por um minuto, sequer, esta, deixava transparecer qualquer tipo de expressão, ou movimento, diferente destes que acabei de descrever. Não se fazia sentir, nesta mulher, um único acto espontâneo – no entanto, sempre me pareceu uma pessoa verdadeira, dentro de toda aquela armadura que, dia após dia, Anabela vestia!
Como é natural, em mim, não me contentei com esta primeira impressão. Eu sabia que tinha de haver uma explicação para toda aquela aparência, exageradamente racional. Disfarçadamente, fui dispensando grande parte da minha atenção, àquela “mulher mistério”.
Foi então que, a minha sensibilidade me disse que, Anabela era uma pessoa tímida, que enfrentava alguns momentos de solidão, que resultavam numa ligeira tristeza. Uma mulher carente de afectos, que para se proteger do mundo ( que muitas vezes a magoava), ou talvez, até, para se proteger de si mesma, obrigou-se a ser um pouco fria.
São, para mim, estes os motivos da tal postura de extremo auto controlo, que sempre vi em Anabela. Se este meu diagnóstico é, ou não, a alma gémea da postura que Anabela mostra ao mundo, sinceramente não o posso garantir. Mas, de uma coisa tenho a certeza. Anabela tem um Ser maravilhoso, abrigado dentro de si. Existe, nela, muitas coisas bonitas, para partilhar com o mundo – do qual ela foge! Amor, carinho, ternura, amizade e sabedoria – com toda a certeza -, são uma dessas coisas bonitas…
Acalma-me acreditar que, um dia, alguém (especial o suficiente para perceber o Ser bonito que Anabela é), consigo se irá cruzar, e então, a irá convidar para, a seu lado, ir conhecer este jardim florido e perfumado, que é a vida!

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